A histórica identificação de Portugal com o Mar, faz justiça à longa linha de costa, e é patente nos acontecimentos históricos mais marcantes. O Mar constituiu, ao longo dos tempos, um recurso fundamental para grande parte da população portuguesa, maioritariamente estabelecida no litoral, e dependendo substancialmente do mar para alimentos e produtos para a agricultura (e.g., algas). Simultaneamente, esta presença de proximidade marítima facilitou os fluxos de exploração e a comercialização, chegando mesmo nalguns casos a ter uma expressão marcante. O Mar para estas comunidades mesmo quando já não a principal fonte de rendimento, constituiu recurso imprescindível e complementar em tempos difíceis, funcionando como alternativa, para a sobrevivência e estabilidade da própria sociedade. Essa vastidão marítima representou, assim, um recurso inesgotável sempre presente a que todos se habituaram a tomar como permanente. O Mar constitui, hoje, espaço privilegiado de lazer, mas é também alvo de uma exploração não sustentável dos seus recursos, e tem sido, frequentemente, o depósito inesgotável de resíduos das actividades humanas. Estes problemas escondem-se debaixo de um azul ilusório. Se nada fizermos sofreremos em crescendo o revês destes erros.
A valiosa relação marítima tem vindo a ser perdida. Hoje é imprescindível recuperar a identidade com o Mar, é preciso que todos nos revejamos neste elemento fortemente associado ao nosso percurso, à nossa vida e mesmo à nossa cultura e que representa uma complementaridade importante da nossa dimensão. Numa altura em que a sustentabilidade é considerada como parte integrante do nosso mundo, trabalhar com o mar e a sociedade é essencial para a recuperação deste elo. É preciso conhecer para acarinhar.
O presente número da revista de Ecologia é dedicado ao Mar, contribuindo para a difusão alargada do conhecimento com ele relacionado. Com o objectivo de sensibilizar para o valor e para os problemas dos oceanos e zonas costeiras pretendemos consciencializar todos, através dos estudos desenvolvidos nestes contextos, demonstrando a sua importância. É preciso inverter o ciclo instalado e as tendências vigentes. Esperamos que, quer os ecólogos ligados ao Mar, quer a sociedade em geral, encontrem aqui um desafio e uma oportunidade de colaboração e interacção, visando a recuperação do elo com o Mar e a recuperação de práticas sustentáveis imprescindíveis à sobrevivência deste recurso. O Mar é a nossa terra!
Lia T. Vasconcelos (Vogal da Direcção da SPECO)
Foto: Paula Sobral
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Entrevista
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